Aneurisma cerebral: prevenção garante qualidade de vida
O cérebro é a estrutura mais complexa do corpo humano. Para alimentar esse órgão, circulam aproximadamente 750 ml de sangue por minuto em milhares de microvasos. É como se fossem várias mangueiras destinadas a regar um jardim. Enquanto elas estão com boa estrutura, o jardim recebe o nutriente necessário e da forma correta.

Essa metáfora remete a um problema que atinge cerca de 5% da população mundial: o aneurisma cerebral. Trata-se de uma dilatação anormal localizada em determinado ponto dos vasos sanguíneos, que em algum momento pode estourar, causando hemorragia e, consequentemente, sequelas como comprometimento vascular e lesões cerebrais. Entretanto, a maioria dos que têm o problema passa a vida toda sem qualquer uma dessas manifestações. O maior risco é de hemorragia, que atinge 20 pessoas, a cada 100 mil, por ano.
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“A pessoa nasce com uma fragilidade em pontos localizados na parede da artéria. Ao longo da vida, com a passagem de sangue naquela região, ocorre a dilatação”, explica o dr. Alexandre Pieri, neurologista e gerente médico do Programa Einstein de Neurologia do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
Cérebro em risco
Embora o sangramento dure apenas alguns segundos, há aumento da pressão intracraniana, danificando eventualmente as células da região. Mas, se a pressão for muito elevada, o oxigênio e a circulação sanguínea são interrompidos, o que leva à perda da consciência.
Entre as complicações decorrentes da ruptura do aneurisma estão:
- Vasoespasmo – os vasos sanguíneos no cérebro podem se expandir e se estreitar de forma irregular, causando espasmos. Isso limita o fluxo de sangue para as células cerebrais, danificando-as.
- Hidrocefalia - se o rompimento resultar em hemorragia no espaço entre o cérebro e o tecido que o circunda, o sangue pode bloquear a circulação do fluido que irriga o cérebro e a medula – chamado de líquido cefalorraquidiano. Essa condição pode resultar em hidrocefalia (um excesso de líquido que aumenta a pressão sobre o cérebro e pode danificar os tecidos).
Caminhos para o tratamento
Há uma máxima na área médica que afirma: aneurisma encontrado, aneurisma operado. Para o dr. Pieri, a postura vem mudando ao longo dos anos. “A melhor maneira de tratar é levar em conta três fatores: o paciente certo, no momento certo, com o tratamento certo”, afirma.
Isso significa que cada caso deve ser analisado para, então, ser tomada a decisão sobre a intervenção a ser feita: microcirurgia ou técnica endovascular. Esses são os dois caminhos possíveis, pois ainda não há medicamentos capazes de tratar o problema, apenas as complicações decorrentes de uma ruptura.
Os dois tratamentos consistem em obstruir a circulação de sangue no aneurisma, mas cada um tem suas particularidades:
- Microcirurgia – por meio da abertura do cérebro, coloca-se um clipe metálico na base do aneurisma. Esse é o tratamento clássico e o mais utilizado no país.
- Técnica endovascular – um microcateter segue da virilha até o cérebro e é posicionado no interior do aneurisma. Através dele são implantadas microespirais de platina, para preenchê-lo.
Inicialmente, esse tratamento se restringia a pacientes com lesões graves e que não podiam ser operados. O desenvolvimento da técnica permitiu sua expansão para outros casos. “A vantagem é poder tratar o paciente assim que se faz o diagnóstico, o que evita novos sangramentos e permite melhor cuidado do paciente com vasoespasmo”, explica o dr. Mário Andrioli, neurorradiologista intervencionista do Einstein.
Detecção precoce
A recuperação é muito melhor, com volta à normalidade na maioria dos pacientes tratados preventivamente
Muitas vezes o paciente descobre a lesão em meio ao tratamento de outra disfunção, ou até em um checkup. “O risco de sangramento varia de 0,2% a 3% ao ano, mas é cumulativo com o passar do tempo. Então, quanto mais jovem a pessoa, maior o risco de sofrer uma ruptura com o avançar da idade”, explica o dr. Reynaldo Brandt, neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
Portanto, uma vez diagnosticado um aneurisma cujo tamanho leve a risco de rompimento - e se a idade e as condições de saúde permitirem - é indicado tratamento preventivo, a fim de evitar sangramento. “A recuperação é muito melhor, com volta à normalidade na maioria dos pacientes tratados preventivamente. Naqueles que sofreram uma hemorragia, o grau de recuperação varia muito, de acordo com a gravidade e com as consequências”, explica o dr. Brandt.
Referências Bibliográficas:
Publicada em dezembro/2009
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