Análise da capa da revista Veja
(Os segredos de Valério)
A produção do texto teve como origem o escândalo da corrupção no governo
petista, que ficou conhecido como “mensalão,” e que, foi amplamente divulgado
pela imprensa, quando era presidente da República Luís Inácio Lula da Silva,
“Lula”, como conhecido nacionalmente. Lula, na época, não foi ouvido na CPI
criada pelo Congresso, e muito menos teve seu nome envolvido no escândalo. O
partido do PT blindou o presidente na época, no desenrolar da história alguns
foram punidos e outros foram acobertados e saíram ilesos.
B) Formação Discursiva
A FD da capa da revista “Veja” relaciona a ideologia de que, neste país,
apenas os “mequetrefes,” os de pouca importância são condenados, enquanto que
os “graúdos” saem impunes. O que caracteriza esta FD é a regularidade com que
este tipo de discurso é estampado nas manchetes da mídia. Poderíamos até dizer
que, reflete uma “máxima nacional,” já incrustada na memória da nação. É a
formação discursiva do já-dito, determinando a formação discursiva do dizer.
Aqui vemos a metáfora no sentido de transferência do modo como as palavras
significam, no sentido de que “mequetrefe” significa - peixes-miúdos, os
sem-poder, o lado mais fraco em uma relação de poder.
C) Formação
Ideológica
A FI se relaciona às posições de
classe em conflito no país, neste caso especificamente, entre os que detêm o
poder e os que não o têm. “Apenas os mais fracos” vão para a prisão. Isto
mostra o posicionamento ideológico estampado na capa da revista, e que está
contido no discurso de Valério. No caso o Estado (Lula e o PT) usou dos AIE,
para punir o lado mais fraco, apenas para dar uma satisfação à Nação, e por
outro lado, usou o “Aparelho de Estado”- polícia, tribunais, prisões, chefe de
Estado, o Governo e a Administração para isolar o presidente da República e
distorcer a verdade, apresentando o PT, como o partido que investiga e pune a
corrupção, ou seja, usa da ideologia contida na memória do PT, como um partido
de oposição que sempre esteve denunciando as mazelas governamentais. O não-dito
deixa entrever uma outra análise - agora os envolvidos no escândalo da
corrupção são do próprio partido, e ainda, agora eles não são a oposição, mas a
situação, são os que manipulam o poder. O não-dito da capa deixa transparecer a
ideologia petista, de inversão da realidade para proteção do presidente da
República.
D) Representação
- Memória - História - Psicológica - Assujeitamento
O plano enunciativo da capa da Veja
representa o momento presente à época do fato. A foto de Valério e a frase “Os
segredos de Valério”, dialogam com o leitor, faz a chamada de forma
“espetacular”, no sentido de sensacionalista, convidando o leitor, colocando em
evidência a principal personagem do escândalo do mensalão; reaviva a memória do
país, despertando a curiosidade e o interesse do interlocutor (leitor) em
descobrir os mistérios não revelados e que a revista se propõe a revelar, a
dizer o não-dito, o silêncio revelado.
Usa-se do fator psicológico da
curiosidade para despertar o interesse o leitor, através da frase “só não
sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”, no entanto, o
não-dito deixa transparecer que finalmente irá ser revelado, colocando os
pingos nos “is”, que irá “dar nomes aos bois,” ou seja, revelar todo o esquema
do mensalão. A própria foto de Valério na capa, não centrada, taciturno, com um
olhar de ameaça compõem com o texto a imagem de impacto que atraem o leitor para
a revista e consequentemente a desvendar o seu conteúdo.
Há o assujeitamento da revista ao
convocar o leitor numa relação de identidade com o conjunto de valores de uma
prática discursiva ideologicamente determinada pelas condições de produção
social - no caso - “só os pequenos vão para a cadeia”. Quando Valério diz -
“não podem condenar apenas os mequetrefes”, ele ao mesmo tempo se coloca como
sujeito e assujeitado, pois, como sujeito ele é o pivô da capa e da reportagem
em si, e ao mesmo tempo se assujeita, quando o seu discurso relaciona
mequetrefes a todos os mais fracos em uma relação de poder, no qual ele se
insere como integrante da parte fraca.
E)
Heterogeneidade Discursiva - Interdiscurso
A heterogeneidade discursiva é a
memória discursiva que relaciona o dito (intradiscurso), o que Valério diz, com
o já-dito, o pré-construído, o que já é sabido historicamente e
sociologicamente - “só os mequetrefes são condenados”. O não-dito, que está no
interdiscurso é que os grandes, os que têm o
poder, não são condenados.
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